Cássia Eponine Repórter
O antigo sonho de “fazer a América” mudou de endereço. A crise financeira internacional, que atingiu em cheio as economias mais desenvolvidas do mundo e vem mostrando seus efeitos nos níveis de emprego dentro Brasil, também reduziu o mercado de trabalho para brasileiros em antigos e consolidados recrutadores da mão de obra verde-amarela no exterior. Com oportunidades cada vez mais escassas em países como Estados Unidos, Japão, Inglaterra, Portugal e Itália, o fluxo emigratório de brasileiros em busca de trabalho está traçando novas rotas. Para 2009 e 2010, despontam destinos como os Emirados Árabes, em especial Dubai, no Oriente Médio, Angola, na África, Nova Zelândia, na Oceania, e dezenas de cruzeiros que começam a chegar à costa brasileira no final deste ano. “Mercados que antes eram gigantescos, hoje não existem mais. O empresário americano está desmotivado, inseguro e cancelou a importação de profissionais. Tivemos uma queda forte de demanda tanto para a Disney quanto para as estações de esqui”, relata o diretor da MBrazil Intercâmbios, Marcelo Toledo. Segundo o diretor, os embarques mensais da agência de brasileiros para os Estados Unidos caíram de 20 para zero depois da crise. Em outra frente, a demanda para Dubai, um dos sete emirados que compõem os Emirados Árabes Unidos, saltou de 100 profissionais no ano passado para 600 este ano. Segundo a diretora regional da Brazil’s Best Recruitment Consultancy, Andrea Anderegg, para o Japão, as vagas diminuíram 50%. Em compensação, a demanda para o Oriente Médio aumentou. No Japão, o grupo mais afetado pela retração da demanda nos setores industrial e de serviços foi o de trabalhadores temporários, exatamente o regime de contrato da maioria dos brasileiros residentes no país. Com a retração econômica, os temporários ficam mais vulneráveis do que aqueles com vínculos empregatícios mais antigos. “Nos últimos meses, houve um grande crescimento de vagas para países como Emirados Árabes, Qatar, Oman e Arábia Saudita. São mercados nos quais existem muitas vagas para latinos”, aponta. Com sua economia baseada na exploração de petróleo e gás, o setor de serviços responde por 78% do PIB dos Emirados Árabes. A demanda por profissionais, principalmente para Dubai – o emirado com maior apelo turístico -, é fundamentalmente para o setor de hotelaria. De acordo com Toledo, os contratos de trabalho são de dois anos, e as passagens aéreas, alimentação e acomodações são custeadas pelo contratante, desde que não haja quebra de contrato. “Essa questão de dois anos de permanência encontra alguma resistência entre os candidatos. Alguns até veem pelo lado da estabilidade, mas outros criticam muito”, relata o diretor, destacando que, se o trabalhador decidir voltar antes de dois anos, ele paga sua passagem de volta. Se o retorno se der antes de um ano de permanência, o trabalhador arca também com os custos da passagem de ida. “Tudo consta do contrato, que é lido e assinado no Brasil”, afirma. Os candidatos que se dispõem a desembarcar em Dubai têm que estar cientes de que, no país – islâmico –, as demonstrações calorosas em público não são bem-vindas. Os salários não são altos, e começam com US$ 500 mensais. “Quando o trabalhador conquista a confiança deles, vai crescendo na empresa”, aponta. A jornada é de oito horas semanais, seis dias por semana. Os brasileiros, segundo Toledo, são mão de obra bem-vista pelos árabes. “É um mercado diferente. O que conta não é o currículo nem o inglês fluente. Eles são muito flexíveis e aceitam o inglês intermediário. O mais importante é a personalidade da pessoa, que ela seja extrovertida e sorria com facilidade. Eles entendem que podem qualificar o profissional, mas mudar a personalidade não”, conta. As mulheres levam vantagem na seleção e representam cerca de 80% dos embarques para Dubai. “Eles acham que as mulheres combinam mais com o servir, com a hotelaria”, aponta, destacando que a maioria das vagas são para hostess (espécie de recepcionista), garçons e cozinheiros. A chef Ana Sílvia Ivamotto Passos Nogueira, 24 anos, há dez meses no setor de confeitaria de um hotel em Dubai, está em sua segunda experiência internacional e destaca a oportunidade de aprendizado.“Já trabalhei na Índia durante três meses, e, agora, trabalho em Dubai. Acredito que nesta área de gastronomia há muita coisa para aprender fora do Brasil. É uma experiência profissional e cultural incrível. Mas é preciso ir com uma mente aberta e estar pronto para os desafios”, afirma. Por dez horas de jornada, Sílvia recebe salário de US$ 1 mil, além de benefícios como transporte, moradia e convênio médico. A busca por novos horizontes e o aperfeiçoamento do inglês movem a recém-formada em comércio exterior Franzeli Cardoso, 28 anos, em processo de seleção para um emprego de hostess, garçonete ou caixa em Dubai. “Fui para os Estados Unidos no ano passado e sei que as coisas lá estão difíceis. Optei por Dubai, que está contratando”, justifica Franzeli. |